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CONTANDO, VOCÊ ME DIZ QUE É MENTIRA... {SOBRE ROGER FEDERER/AO2017 E TOM BRADY/SB51}.

Talvez a razão pela qual os gregos interrompessem mesmo as guerras, quando chegava o momento dos esportes (das Olimpíadas – todo mundo sabe...) é que sabiam (filósofos e poetas “divinos” como eram) que milagres podiam acontecer e que, talvez, um ou outro “deus” ou “semideus” desse o ar da graça nos dias em que “a coisa estivesse rolando”.




Bem, se você e eu pararmos pra pensar, foi o que aconteceu nesses dois últimos domingos: Roger Federer bateu Rafael Nadal, na final do Australian Open 2017 e “the New England Patriots”/Tom Brady venceram o Super Bowl 51.

Foram – penso – duas das maiores vitórias no terreno individual e no coletivo, nos últimos 50 anos.

“O que é que há demais, nisto tudo?!...”

Meu caro... Você que não viu ambos os eventos não tem ideia do que significam, significaram e vão significar pro esporte, pelas próximas décadas... Vamos tentar entender o tamanho de tudo isso, um pouco.

Roger Federer, aos quase 36 anos, bate seu maior rival (a quem não vencia havia quase 10 anos, em torneios do Grand Slam), conquista seu 5º Australian Open (se tornando o único ser humano a ter pelo menos cinco títulos em três diferentes majors), soma 18 títulos de majors e vira um jogo que (até para seus maiores fãs), estava praticamente perdido, num quinto set em que ele, evidentemente cansado, com dores na perna e mais velho que o “Touro Miúra”, tinha de reverter um 1-3 em games.

E Federer, contra a expectativa de meio mundo de gente e mais um pouco, o fez... Com direito a 14 winners de backhand ao longo do jogo (o golpe que sempre foi apontado como o “ponto fraco” – o de Stan Wawrinka é melhor, dizem... – que Rafael Nadal e “Tio Tony” sempre exploraram, desde a primeira vez em que se enfrentaram). Detalhes? Federer vinha de cirurgia e estava havia seis meses longe dos torneios profissionais... Teve de jogar quartas de final e semifinal em partidas de cinco sets, contra dois tenistas do “Top 10” (Key Nishikori e Stan Wawrinka) e isso depois de passar (em sets diretos e em 1h32min!) por outro top ten (Tomas Berdych). Se Guga Kuerten disse que seu primeiro Roland Garros “aconteceu”, que “não era pra eu ter vencido aquele torneio”, o mesmo se pode dizer de Federer, neste AO2017: ninguém acreditava... Só ele. Ele, a esposa, o “staff”.



No caso dos Patriots e de Tom Brady, foi ainda mais inacreditável: virar um jogo que estava com placar de 28-3, no meio do terceiro período (o que seria, mais ou menos, a nossa “metade do segundo tempo”, no futebol). Detalhes? Nunca tinha acontecido... Tom Brady tem quase 40 anos... O time adversário era o melhor ataque da temporada regular... O time adversário tinha o MVP (Most Valuable Player, o craque do campeonato, a gente diria por aqui) da temporada regular... O time adversário era mais jovem e rápido... O time adversário jogava em casa...

Torcer por Brady e por Federer é torcer pelos “caras legais” – é o que quase todos dizem: eles são elegantes, bons maridos, bons pais, profissionais ao extremo, bem humorados, envolvidos em causas sociais (Federer tem sua fundação – assim como Rafael Nadal e Guga Kuerten). Mais do que isto, porém: é torcer pelos caras que, quando você acha que não dá mais, eles vão lá e encontram uma maneira de vencer, sabe-se lá como...

Na final do AO2017, Federer “tomou” um jogo das mãos do tenista que talvez seja o cara mais “casca grossa” na hora de “matar” uma partida (eu não lembro de Nadal levando viradas em finais de grand slam, a não ser uma única vez, no mesmo Australian Open, há pouco tempo, diante de um outro monstro chamado Novak Djokovic – naquela que é a partida mais longa das finais de “majors”, com mais de seis horas de jogo!...).



Pra quem não viu o jogo de tênis pra não sofrer de novo (“Ah... O Federer vai perder, de novo, pro Nadal!”) e pra quem desligou a TV no meio do terceiro período do SBLI (repito: com o placar em 28-3...) fica a lição: quando se tratar de esporte, faça como os gregos e pare até as guerras pra assistir – pode ser que os deuses estejam por ali (eles ou um dos seus filhos “semi”)...


Pra quem viu, fica a memória de duas noites absoluta e inquestionavelmente fantásticas.

*P.s.: tenho minhas desconfianças de um cara que apoiou Donald Trump (como parece que é o caso de Tom Brady...).

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