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"Super" luas, Kant e Campbell...


     É provável que a frase mais conhecida do talvez mais "difícil" filósofo do século XX (o singular e profundíssimo Immanuel kant*) seja esta: "Duas coisas me enchem constantemente de espanto: o céu estrelado sobre mim e a lei moral dentro de mim".

     Como meio mundo de gente, ontem busquei ver a dita cuja "Superlua que não se verá nos próximos sei lá quantos e tantos anos".


     Confesso que me atrasei e não cheguei à praia no horário em que eu imaginei que ela surgiria no horizonte (o fim da tarde, começo da noite - por óbvio). Assim, quando a vi cara a cara, já estávamos pelas 18:30hs e ela, branquinha, não me pareceu estar mais gorda ou mais alta do que há cerca de trinta dias (estava "um espetáculo", como sempre; mas não me pareceu haver nada de "Super" nela - perdoem-me se pareço chato).

     Como eu, havia uma infinidade de pessoas (quase ninguém estava só): muitas famílias inteiras (não poucas com a presença de três gerações), grupos de amigos, obviamente os casais (e que romântico: beijos, abraços, um no colo do outro e as selfies - uma das "pragas" da modernidade?...).

     E a lua lá, vendo - quieta e calada - a tudo, sem se importar.

     Consegui um par de cadeiras de praia e me aboletei no melhor conforto que consegui, para contemplar a parte que me cabia. Levei uma boa câmera fotográfica e devo ter tirado lá minhas dez fotos (nenhuma selfie - acho que a lua não gostaria... E eu não sou lá muito fotogênico).

     Lembrei de Jesus (Olhai os pássaros do céu e os lírios do campo...). Lembro, agora mesmo, de Francisco de Assis (Ó, irmão Sol! Irmã Lua!... Abram meus olhos, quero ver a luz!).

     Lembrei de Joseph Campbell (O Poder do Mito*)... Joseph nos fala da importância dos símbolos, dos rituais, dos mitos, para a construção e perpetuação de nosso modo de ser, de viver e sentir o mundo e as coisas; para a organização da humanidade em cada um de nós.

     Pensei nos desertos da África, nos acampamentos de refugiados (na Síria, no Iraque, na Turquia, na França e Inglaterra...) e me perguntei se eles (sem água à vontade, sem comida decente, sem internet...) teriam notado que havia uma lua maior no céu e se teriam podido parar para observar sua magnitude...
Confesso que me fez feliz ver tanta gente (ao meu redor e no mundo inteiro) parando, saindo de casa (ou não), unindo-se em família (ainda que por um momento) para ver a lua, para admirá-la, para contemplá-la.
Noto o quanto a gente já não sabe mais contemplar as coisas (havia gente que levou bebida, não parou de falar um só minuto, gargalhou, tirou "selfies" e pouco olhou para o céu), mas - pelo menos - ontem tentamos.





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